Padre Reginaldo Manzotti (boletim quinzenal - 14 de setembro 2022)

 

Filhos e filhas,

Já estamos em meados de setembro. Hoje, dia 14, celebramos a Festa da Exaltação da Santa Cruz, e amanhã, dia 15, Nossa Senhora das Dores. Pode parecer estranho celebrar um a cruz e o sofrimento, mas a festa não é isso! Devemos dar um passo além, Jesus amou-nos tanto que deu sua vida por nós.

Foi uma entrega, Deus tornou-se humano para vencer a última barreira, a morte. A cruz está vazia, Jesus Ressuscitou e é isso que celebramos, esse amor que vai até as últimas consequências. E nós, criaturas, somos atraídos por esse amor.

O ser humano, a natureza humana tem sede de Deus. Esta é uma verdade que temos que aceitar, nossa alma tem fome de Deus, tem sede de Deus. Nossa natureza humana busca o Seu Criador. Isso não tem relação com as teorias de onde, como ou quando surgiu o ser humano. Todo ser humano é um desdobramento de Deus. Quando nós falamos que Deus nos fez à sua imagem e semelhança é o mesmo que dizer que Deus nos fez como parte Dele.

E interessante perceber que o ser humano, independente de todas as análises, todo estudo feito sobre o Gêneses, todas as teorias, o fato é que o ser humano, era um ser feito de uma matéria e a partir de uma intervenção de Deus, esse ser humano tomou a consciência. O ser humano se tornou racional, fato esse que não aconteceu com os outros animais.

Muitas são a teorias, mesmo partindo do princípio de que o homem descende de algum animal, houve um princípio e chegou o momento e, é o momento de Deus, onde este animal deu um salto qualitativo, deu um salto que os outros não deram até hoje, um salto da razão, um salto da consciência, um salto da percepção da sua existência, isso é inegável, isso é latente para todos nós.

Não vamos discutir o Gêneses. Se foi de barro, se foi o hálito, o ruah, o sopro da vida, que são imagens simbólicas de uma verdade incontestável num determinado momento, não se sabe como nem quando, nem de que forma, Deus o Criador interveio.  Isso nos faz perceber que somos o que somos, porque Deus quis assim. Somos o que somos, porque Deus nos fez, portanto, nós somos uma extensão de Deus, um derramamento de Deus e por mais que alguns não aceitem, nós temos saudades do Criador.

Está em nossa natureza, em nossa essência, em nossa matéria. Então quando dizemos “tenho saudades de Deus”, “tenho fome de Deus e eu anseio por Deus” é antropológico, é da natureza.

O Salmista expressa esse nosso grande anseio: “Minha alma tem sede de Deus, do Deus vivo: quando voltarei a ver a face de Deus?” (Sl 42,3). Depois da criação, ninguém mais viu a face de Deus e o grande anseio é encontrar essa face.

A vida é busca e encontro. Nossa grande busca é Deus, Ele é o amado de nossa alma, como diz São João da Cruz, num dos seus poemas espirituais: “Buscando meu Amor, meu Amado, vou por montes e vales, sem temer mil perigos. Nem flores colherei no caminho, pois segui-lo é preciso sem deter-me ou parar. Já não tenho outro ofício, só amar é o exercício. Solidão povoada, presença amorosa do Amado. Viver ou morrer, sem Ele eu não quero ser”!

Busquemos encontrar Deus e Ele se deixará encontrar. O próprio Deus nos diz, através do profeta Jeremias: “Vocês me procurarão e me encontrarão se me buscarem de todo o coração” (Jr 29,13).

Que Nossa Senhora das Dores nos ajude nessa busca e encontro, com a certeza de que a vitória vem depois da cruz.

Deus abençoe,

Padre Reginaldo Manzotti


Padre Reginaldo Manzotti ( Boletim informativo semanal-07/09/2022)

 

Filhos e filhas,

Estamos na semana da pátria. Neste ano, nós, como brasileiros, comemoramos 200 anos de nossa independência. E devemos celebrar! Celebrar nossa cultura, celebrar esse povo alegre, corajoso e piedoso que somos.

E nesta semana, elevo uma prece pela pátria, que todos os brasileiros possam viver com dignidade, integralmente, em todos os âmbitos da vida. Eu acredito na capacidade do povo brasileiro de superar todas as tribulações de forma pacífica. Porque a paz, principalmente em uma nação, deve sempre ser preservada.

E muitas coisas nos levam a perder a paz. O medo é um dos inimigos da paz, porque nos leva à insegurança, à desconfiança, a nos armarmos contra aqueles que pensamos ser ameaça para nós. Não digo que estejamos com armas de fogo e também não me refiro só à agressão física. Fazemos de nossa língua uma arma mortal, espalhando fofoca e maledicência, “puxando o tapete”, mentindo e intimidando.

O próprio Jesus, ao nos deixar a paz, recomendou que não tivéssemos medo. Por isso também, em seguida, Ele nos mandou amar-nos uns aos outros (cf. Jo 15,17). O medo separa, desequilibra e desune; o amor atrai, congrega, dá segurança e traz a paz.

A mentira é outra inimiga da paz. A pessoa que pratica o mal não gosta de ver as coisas ruins à luz da verdade, se esconde. Por isso quem faz o mal não gosta da luz. Jesus é luz e quem caminha no mal, quem é mentiroso, desonesto, quem busca o pecado não quer a luz, prefere as trevas, as sombras, prefere fazer as coisas na surdina, nas fofocas, intrigas, promovendo as discórdias.

Não podemos nos esquecer que a paz, além de ser um dom de Deus, é uma construção diária que depende muito de nós. Depende de nossas atitudes, de sermos capazes de nos reconciliar, nos acolher, nos perdoar e libertar-nos das mágoas e ressentimentos.

Muitos atos de violência são gerados por motivos fúteis, pela inveja, egoísmo, preconceito, falta de autocontrole, de tolerância ou de equilíbrio. O problema é que a dureza de coração nos faz indiferentes diante do nosso próximo e não o vemos como alguém em potencial, alguém que possamos amar. Vemos como inimigo.

Tudo isto nos afasta da paz, mas não podemos nos dar por vencidos. O Apóstolo Paulo afirma: “Apresentem a Deus todas as necessidades de vocês através da oração e da súplica, em ação de graças. Então a paz de Deus, que ultrapassa toda compreensão, guardará em Jesus Cristo os corações e pensamentos de vocês” (Fl 4,7).

Esse trecho da Carta aos Filipenses nos dá uma certeza que a paz não é uma utopia, não é um “talvez”, mas é uma certeza em Jesus. Ele venceu o mundo! A paz já nos foi concedida e tenho certeza que ela prevalecerá em nossa pátria.

Deus abençoe,

Padre Reginaldo Manzotti


Padre Reginal Manzotti (boletim informativo semanal-31/08/2022)

 

Filhos e filhas,

Seguir Jesus requer autenticidade e fidelidade. A Ele ninguém engana, Ele conhece os nossos pensamentos e sentimentos. Quando pensamos em procurá-Lo, Ele já nos encontrou.

Foi o que aconteceu com Natanael: Jesus viu Natanael aproximar-se e comentou: “Eis aí um israelita verdadeiro, sem falsidade”. Aquele que a princípio se mostrou incrédulo e até um pouco malcriado ao dizer: “De Nazaré pode sair coisa boa?” (Jo 1,46), fruto da experiência do encontro proclama com fé: “Rabi, tu és o Filho de Deus, tu és o rei de Israel!” e torna-se um dos doze apóstolos de Jesus.

Como já disse, quem faz em sua vida a experiência do encontro de amor com Jesus, não consegue retê-lo, sente necessidade de apresentá-Lo a outros como fez Filipe. Papa Francisco em sua Exortação Apostólica Evangelii Gaudium – Alegria do Evangelho, diz a este respeito:

O bem tende sempre a comunicar-se. Toda a experiência autêntica de verdade e de beleza procura, por si mesma, a sua expansão; e qualquer pessoa que viva uma libertação profunda adquire maior sensibilidade face às necessidades dos outros” (9).

E, o Papa tem falado muito de uma Igreja de saída, que vai até o povo. Diz ele: “Sonho com uma opção missionária capaz de transformar tudo, para que os costumes, os estilos, os horários, a linguagem e toda a estrutura eclesial se tornem um canal proporcionado mais à evangelização do mundo atual do que à autopreservação” (27). Ele prefere uma Igreja machucada, ferida, por ter ido ao povo, do que uma Igreja santinha fechada em si mesma.

Todo o servir por amor a Jesus faz a diferença. Às vezes, nos cansamos, a coisa fica mecânica e não aguentamos. Tudo se torna enfadonho porque entendemos nossa vida em Deus como uma obrigação e a obrigatoriedade não é fruto do amor.

Só encontramos nossa felicidade, nossa vida plena em Jesus Cristo, não adianta buscar em outro lugar ou pessoa. Santo Agostinho compreendeu isto e lamentava: “Tarde Te amei... Eu poderia ter encontrado esta felicidade antes”.

Podemos encontrar Jesus e não ser mais um serviçal, ser como Ele mesmo nos chamou “amigos”. Ninguém é servo de Jesus. Somos amigos e foi Ele quem nos autorizou e confirmou esta amizade (cf. Jo 15,15). Essa experiência pessoal com Jesus é fundamental, é essa experiência que traz a alegria de Deus.

Voltando a Natanael: “Eu te vi embaixo da figueira”, isso é lindo demais, esse olhar de Jesus, que é profundo. Basta esse olhar para transformar corações. Como Natanael podemos nos perguntar: De onde Jesus me conhece? A resposta de Jesus certamente será: “Eu te vejo, eu te conheço antes que você me conhecesse, eu te encontrei antes mesmo de você me encontrar, eu te amei antes de você me amar!”

Você já foi olhado por Jesus? Ou melhor, você já olhou nos olhos de Jesus, quando está diante do Santíssimo? Isso é de um valor incomensurável, se ajoelhar em frente do Sacrário e fazer como Santa Teresinha de Lisieux, “Jesus, tua menina chegou, tua menina está aqui”, não precisa nem rezar, somente se colocar sob o olhar de Jesus. Se sentir vontade de chorar, chore. Se sentir vontade de cantar, cante. Se não sentir vontade de fazer nada, não faça. Apenas saber que está sob o olhar de Jesus basta.

Jesus nos olha com amor (cf. Mc 10,21). Você já sentiu esse olhar de Jesus que diz: “Eu te amo!”? Esse olhar de Jesus muda toda a nossa vida e nos leva a uma experiência de amor tão grande que nos faz nos apaixonar por Ele a ponto de afirmar: “Jesus é meu amado, é a razão da minha vida!”

Natanael encontrou isso. Nós também podemos encontrar.

Deus abençoe,

Padre Reginaldo Manzotti