Pe. Reginaldo Manzotti | Boletim Informativo - 22 de fevereiro

 

Filhos e filhas,

estamos na Quaresma, o Carnaval acabou. Termina a “festa da carne” para começar a festa da misericórdia. Termina a festa das fantasias e das aparências para começar a festa do perdão e da reconciliação. No início da Quaresma recebemos as Cinzas em sinal de que aceitamos e queremos fazer uma caminhada de purificação, de arrependimento e de conversão.

Ao recebermos a imposição das cinzas, lembramos da nossa condição humana, cheia de incoerências, fraquezas, infidelidade. O gesto da imposição das cinzas é um gesto externo, mas deve ser fruto de uma vontade interna de mudança e conversão. As cinzas são dos ramos bentos do ano anterior e cada um, ao recebê-las, deve ter em seu coração a vontade de se voltar para Deus e se deixar reconciliar com Ele.

É o próprio Deus quem nos dá essa oportunidade, esse presente e nos propicia essa reconciliação. Como diz São Paulo: “Em Nome de Cristo nós vos suplicamos deixai-vos reconciliar com Deus” (2Cor 5,20b). Esse é o sentido da Quaresma, nos permitir reconciliar com Deus através daquilo que nos diz a profecia de Joel, própria da liturgia da Quarta-feira de Cinzas: rasgando o coração (cf. Jl 2,13).

É muito forte! Não é abrir o coração, é rasgar o coração. É dizer: “Senhor eu não sou nada. Eu rasgo meu coração e me derramo na Vossa presença. Eu rasgo meu coração e tiro todas as resistências à minha conversão”.

Jamais devemos olhar a Quaresma como um fardo pesado, mas sim como escreveu São Paulo na Segunda Carta aos Coríntios, que no momento favorável Deus nos ouviu e no dia da salvação, Ele nos socorreu. É agora o momento, é agora o dia da salvação (2Cor 6,2).

Tempo de Quaresma é o tempo favorável. É o tempo de conversão. É a volta à casa do Pai. É o tempo em que a nossa abertura para Deus nos faz reconciliar com Ele.

Por isso, no início da Quaresma de 2023, os convido a fazer essa oração:

Senhor Jesus, conduze-me no bom uso do meu livre arbítrio.

Inspira-me, Senhor, a fazer a opção pelo bem.

Fortalece o meu caráter, Senhor,

Fortalece minha vontade,

E, se por acaso, em algum momento desse dia,

eu me sentir tentado a sair do Teu caminho,

Manda teus anjos e envolverem

para que eu jamais me desvie do bom caminho.

Faze, Senhor, que eu possa transbordar o amor que sinto por Ti.

Amém

Uma santa Quaresma a todos!

Deus abençoe,

Padre Reginaldo Manzotti


Padre Reginaldo Manzotti (boleteim informativo semanal)

 

Filhos e filhas,

A verdadeira oração é uma lembrança de Deus, um frequente despertar da “memória do coração” (CIC 2697). A oração é fruto da vida, é um filho que fala com seu Pai dos cansaços, das conquistas e frustrações, alegria e tristezas, êxitos e fracassos.

O elemento essencial para a oração é um coração humilde e contrito. A condição necessária para receber gratuitamente o dom da oração é colocar-se como disse Santo Agostinho, um “mendigo” de Deus.

Quando os discípulos pediram: “Senhor, ensina-nos a orar” (Lc 11, 1), Jesus ensinou-lhes a oração do “Pai Nosso”. Dois Evangelistas fazem essa narração. Lucas, de forma mais breve, com apenas 5 petições (Lc 11, 1ss) e Mateus, de forma mais longa, com 7 petições (Mt 6, 9ss). Este último é a que usamos para a nossa oração.

O “Pai Nosso” é chamado oração dominical e oração do Senhor, porque não foi feita por mãos humanas, mas revelada pelo próprio Nosso Senhor Jesus Cristo. A primeira parte do “Pai Nosso” é na verdade um pôr-se na presença de Deus nosso Pai. A segunda parte são as petições em relação às nossas necessidades.

Ao ensinar os Apóstolos a rezarem, Jesus começa com “Pai”. Isso demostra que essa palavra já tinha sido elaborada, fazia parte do cotidiano e havia sido internalizada. Ele verbaliza aquilo que a sua filiação sentia.

Segundo São Tertuliano, o “Pai Nosso” é, na verdade, o resumo de todo o Evangelho. Nele, Jesus revela a sua relação com o Pai. Na estrutura, nas petições dessa oração, Jesus coloca a ordem e os valores das coisas que devemos pedir. São Mateus, propositalmente, dispõe o “Pai Nosso” em seguida as bem-aventuranças. É como se fosse uma necessidade rezarmos essa oração para sermos bem-aventurados.

Chamar Deus de Pai é uma ousadia filial e Ele quer que sejamos ousados, porque o filho não tem medidas: ele pede, implora, chora, grita e esperneia, mas não desiste. Somos autorizados por Jesus a ter essa ousadia, pois não estamos nos relacionando com um Deus abstrato ou distante. Jesus estabelece uma relação íntima entre nós e o Pai.

O filho sempre puxa ao pai nas coisas boas e ruins. Chamamos Deus de Pai e Ele O é, mas será que nos parecemos com Ele? Isso também requer outra atitude: a de ter um coração humilde e confiante, um coração de criança, de filho, de quem se submete, quem aceita e obedece.

Quando Jesus diz: “Pai Nosso” e não “Pai meu”, Ele exclui uma fé individualista. Ele quebra toda e qualquer possibilidade de exclusão do outro no processo da salvação. Ao rezarmos “Pai Nosso”, entramos em profunda comunhão com todos os irmãos crentes ou não, com aqueles que já encontraram Deus e os que não O encontraram ainda. Incluímos os justos e pecadores.

Então, rezar o “Pai Nosso” é sair do individualismo. É compreender que o amor de Deus é sem fronteira e nossa oração também deve ser assim.

Deus abençoe,

Padre Reginaldo Manzotti