Padre Reginaldo Manzotti ( boletim informativo:novembro/2023)

 

Filhos e filhas,

Ninguém gosta de sofrer, mas muitas vezes não temos escolha. Infelizmente, a dor, o sofrimento e as doenças fazem parte da condição humana. Mas precisamos ter sempre a consciência de que Deus não manda sofrimentos e tribulações, pois Ele é o Sumo bem, a plenitude do amor e um Pai Amoroso que nos quer felizes. Mas, então por que o sofrimento existe?

Um dos grandes teólogos do nosso tempo, Papa Bento XVI, nos ensinou por muito tempo a termos um alicerce espiritual. Certa vez, ao ser perguntado sobre o porquê de crianças nascerem cegas ou sem um dos seus membros, ele se abaixou e com humildade disse: “eu não sei”. Embora Bento XVI seja um grande teólogo, com humildade, reconheceu o mistério de Deus que nos envolve.

Diante da dor e do sofrimento, costumamos questionar a razão de estarmos enfrentando tamanha adversidade. A nossa vida é feita de muitos “por quês”. Por que esta doença? Por que essa dor? Por que meu filho nasceu com esta doença? Por que eu? Por que comigo? Essa “noite escura” é terrível e precisamos ter a consciência de que ela começa dentro do nosso coração. Mas então como fazer para lidar com a dor e o sofrimento?

Contemplando a Cruz de Cristo para, ao contemplá-la, mergulharmos neste entendimento da dor e do sofrimento. Ao olharmos para o sofrimento de Jesus na Cruz, somos chamados a contemplar também a nossa dor. E antes de continuar, preciso alertar que gostar da dor é considerado uma patologia, uma doença. A medicina e a ciência se empenham em minimizar nossas dores, é lícito e necessário, devemos sempre buscar a causa para não mais sofrermos com a dor.

Porém, enquanto a dor não passa, podemos aprender com ela, a dor é pedagógica. Ela nos ensina. Todos querem seguir ao Senhor Glorioso. Poucos são aqueles que querem seguir ao Senhor Crucificado. Diante de uma dor, nossa primeira reação é a de negar este sofrimento. E, logo em seguida, o segundo passo é o do “por quê”. Os nossos “por quês” devem nos levar ao “para que”. É preciso descobrir, dentro deste mistério que é o sofrimento humano, a razão pela qual enfrentamos determinada dor. É preciso aceitar a dor. Mas não de uma forma passiva.

Jesus assumiu a nossa condição humana em tudo, exceto no pecado. E em Cristo conseguimos redimensionar esta experiência dolorosa do sofrimento na própria vida. O sofrimento nos amadurece. Diante do sofrimento somos trabalhados por Deus em nos abrirmos ao próximo. Jesus era tão humano, tão humano, que não media esforços para ajudar as pessoas.

Meus irmãos, precisamos ser mais humanos! Quantos casamentos não teriam terminado, quantos relacionamentos entre pais e filhos não estariam em crise, se estivéssemos mais atentos às fragilidades dos outros. E isto se adquire como um fruto que vem da contemplação de Cristo na Cruz. A liberdade mal-usada provoca dor, sofrimento.

Existem muitas coisas em nossas vidas que ficarão sem respostas. Morreremos sem saber e entender os tais “por quês”! Por isso, o importante é o “para que” deste sofrimento. Jesus passou pelo Calvário e a gente se pergunta: “Para que Jesus morreu na Cruz?” Ele morreu para revelar esta verdade: o Pai nos ama!

Jesus se entregou na Cruz por todos. Porém, não adianta apenas dizer que “Jesus cura tudo”. Com certeza Ele pode curar tudo. Eu mesmo, já testemunhei o Senhor realizando muitos milagres. No entanto, a cura de Jesus é bem mais ampla. Ele nem sempre irá curar aquilo que eu quero, mas sim o que é necessário em minha vida.

Mas, a partir do momento em que uma pessoa se fecha numa redoma, no seu próprio sofrimento, ela vai se destruindo. Ao contrário, quando decide abrir-se ao outro, ao serviço e à entrega por amor, ela vai sendo restaurada. Quando perdemos uma pessoa amada, choramos, ficamos olhando para sua foto, relembrando os momentos... Tudo isso é permitido, é válido por um tempo, o tempo do luto. Só que depois é preciso continuar a viver. Assim conseguiremos redimensionar esta dor. E a melhor forma de redimensioná-la é entregando-se por amor aos irmãos.

A dor santifica. A cruz liberta.

Deus abençoe,

Padre Reginaldo Manzotti