Amar é gastar-se pelo outro (Jo 15, 9-17)


"Nem mesmo os gregos, que eram tão cultos; nem mesmo Aristóteles, o auge da cultura antiga, não chegaram a descobrir esse mandamento. Os gregos conheciam somente 2 amores: o eros e a filia, e Jesus fala de outro tipo de amor, o ágape. Quando eles falavam de eros, não era nada do que hoje imaginamos como erótico, mas sim o amor-falta. Nós sentimos falta, sentimos saudades de quem amamos. Esse é o primeiro andar do amor. Filia é outra palavra que eles tinham para amor, e para nós vai significar amizade. É a alegria pela presença do outro, a festa por estar junto. Até aí chegaram os gregos, e a maioria das pessoas vivem por aí: sentem falta, fazem festa, querem estar junto, comemorar com as pessoas que trazem alegria para nós.

Mas Jesus achou que era pouco e quis ir mais longe. Ele coloca o amor em 4 etapas. A primeira fala do simples ato de abrirmos a porta para alguém. É o primeiro grau do amor, a porta de entrada, e já é um grande passo, porque poucas são as pessoas capazes de acolher. Num segundo momento, Ele procurava saber se aquele que fora acolhido trazia alguma coisa que precisava ser perdoada. Portanto, no perdão está a segunda etapa do amor, muito mais bonito e cada vez mais raro, para não dizer raríssimo. Jesus continua ao ensinar que devemos dar a nossa vida a quem acolhemos. Em tempos modernos, damos nossa vida a alguém quando lhe concedemos nosso tempo, e estamos cada vez mais incapazes de gastar tempo com quem  está ao nosso lado. Mas só podemos saber  se realmente amamos uma pessoa se formos capazes de ouvi-la, gastar tempo, saúde, voz, dar-lhe espaço em nossa vida. Um pai não é pai por ter dado a vida a seu filho, isso qualquer animal faz, mas por acolhê-lo, ouvi-lo, deixar de lado a televisão e ser capaz de repartir com ele o seu tempo.

É bom saber que aquele que não gasta tempo com o outro não ama. Vejamos o exemplo de Jesus: Ele ia visitar Marta, Maria, parava para conversar com a samaritana, com os fariseus, gastava o seu tempo com as pessoas. Como isto é importante: dar espaço para o outro se mostrar, o esposo ouvir a esposa, trocar ideias, rir juntos, procurar saber como o esposo passou o dia, como o filho vai indo na escola. Há filhos que chegam a passar a semana inteira sem ver nem o pai nem a mãe, o amor é terceirizado para as babás. E quando chega dia das mães, dia dos pais, natal, aniversários, vêm os presentes, as lágrimas. Mas é bom saber que somos pais, mães, filhos, irmãos, amigos é o ano todo. Quantos irmãos não se falam? Falar de amor é muito fácil, precisamos fazer com que o amor seja realidade interna em nós. Dar a vida é dar seu tempo! Mas há momentos em que apenas gastar o tempo já não basta. Aí o amor transborda. Dizem alguns filósofos que só as mães são capazes de chegar a este nível: gastar dias e noites diante do filho, esquecendo de si mesmas, gastando-se a si mesmas.

Ao ouvirmos de Jesus hoje que devemos nos amar uns aos outros, saibamos que precisamos acolher as pessoas, perdoá-las, dar-lhes  vida, gastando com elas o nosso tempo. Amém"

(Texto de João Batista Libanio  do Jornal do evangelizador, nº 58, julho/2012, pág.15).