"Nem
mesmo os gregos, que eram tão cultos; nem mesmo Aristóteles, o auge da cultura
antiga, não chegaram a descobrir esse mandamento. Os gregos conheciam somente
2 amores: o eros e a filia, e Jesus fala de outro tipo de amor, o ágape.
Quando eles falavam de eros, não era nada do que hoje imaginamos como erótico,
mas sim o amor-falta. Nós sentimos falta, sentimos saudades de quem amamos.
Esse é o primeiro andar do amor. Filia é outra palavra que eles tinham para
amor, e para nós vai significar amizade. É a alegria pela presença do outro, a
festa por estar junto. Até aí chegaram os gregos, e a maioria das pessoas vivem
por aí: sentem falta, fazem festa, querem estar junto, comemorar com as pessoas
que trazem alegria para nós.
Mas
Jesus achou que era pouco e quis ir mais longe. Ele coloca o amor em 4 etapas.
A primeira fala do simples ato de abrirmos a porta para alguém. É o primeiro grau do
amor, a porta de entrada, e já é um grande passo, porque poucas são as pessoas
capazes de acolher. Num segundo momento, Ele procurava saber se aquele que fora
acolhido trazia alguma coisa que precisava ser perdoada. Portanto, no perdão
está a segunda etapa do amor, muito mais bonito e cada vez mais raro, para não
dizer raríssimo. Jesus continua ao ensinar que devemos dar a nossa vida a
quem acolhemos. Em tempos modernos, damos nossa vida a alguém quando lhe
concedemos nosso tempo, e estamos cada vez mais incapazes de gastar tempo com
quem está ao nosso lado. Mas só podemos saber se realmente amamos
uma pessoa se formos capazes de ouvi-la, gastar tempo, saúde, voz, dar-lhe
espaço em nossa vida. Um pai não é pai por ter dado a vida a seu filho, isso
qualquer animal faz, mas por acolhê-lo, ouvi-lo, deixar de lado a televisão e ser
capaz de repartir com ele o seu tempo.
É
bom saber que aquele que não gasta tempo com o outro não ama. Vejamos o exemplo
de Jesus: Ele ia visitar Marta, Maria, parava para conversar com a samaritana,
com os fariseus, gastava o seu tempo com as pessoas. Como isto é importante:
dar espaço para o outro se mostrar, o esposo ouvir a esposa, trocar ideias, rir
juntos, procurar saber como o esposo passou o dia, como o filho vai indo na
escola. Há filhos que chegam a passar a semana inteira sem ver nem o pai nem a
mãe, o amor é terceirizado para as babás. E quando chega dia das mães, dia dos
pais, natal, aniversários, vêm os presentes, as lágrimas. Mas é bom saber que
somos pais, mães, filhos, irmãos, amigos é o ano todo. Quantos irmãos não se
falam? Falar de amor é muito fácil, precisamos fazer com que o amor seja
realidade interna em nós. Dar a vida é dar seu tempo! Mas há momentos em que
apenas gastar o tempo já não basta. Aí o amor transborda. Dizem alguns
filósofos que só as mães são capazes de chegar a este nível: gastar dias e noites
diante do filho, esquecendo de si mesmas, gastando-se a si mesmas.
Ao
ouvirmos de Jesus hoje que devemos nos amar uns aos outros, saibamos que
precisamos acolher as pessoas, perdoá-las, dar-lhes vida, gastando com
elas o nosso tempo. Amém"
(Texto de João Batista Libanio do Jornal do
evangelizador, nº 58, julho/2012, pág.15).
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